Um poema de Fernando Pessoa, que retrata também, o que poderá ser uma actualidade, assim como o era nos tempos do poeta. Afinal as aulas de português até servem para alguma coisa, chegando também à conclusão de que o Fernando Pessoa vivia neste mundo e não só no dos heterónimos. Já andava há algum tempo, por volta de um mês, para pôr aqui o poema.
O Menino Da Sua Mãe
No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.
Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.
Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".
Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.
Da outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.
Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.
2 comentários:
Querido Birdye:
Deixo-te aqui um poema do meu poeta favorito, Reinaldo Ferreira, que tal como o que escreves neste post, retrata o absurdo das guerras.
Chama-se "Receita para fazer um herói".
Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.
Serve-se morto.
Primoб eu nao te deixo nadaб porque nao tenho nada para deixar, quer dizer eu tenho, um poema de Pushkin, pode nao dizer nada mas na mesma, aqui vai:
We shall amuse kind citizens
And at a shameful pillar
the Gut of last priest
of Last tsar we shall strangle.
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