terça-feira, 13 de novembro de 2007

Actualidades...

Um poema de Fernando Pessoa, que retrata também, o que poderá ser uma actualidade, assim como o era nos tempos do poeta. Afinal as aulas de português até servem para alguma coisa, chegando também à conclusão de que o Fernando Pessoa vivia neste mundo e não só no dos heterónimos. Já andava há algum tempo, por volta de um mês, para pôr aqui o poema.

O Menino Da Sua Mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado
- Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! que jovem era!
(Agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
"O menino da sua mãe".

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

Da outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço... Deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
"Que volte cedo, e bem!"
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto, e apodrece,
O menino da sua mãe.

2 comentários:

Anónimo disse...

Querido Birdye:

Deixo-te aqui um poema do meu poeta favorito, Reinaldo Ferreira, que tal como o que escreves neste post, retrata o absurdo das guerras.

Chama-se "Receita para fazer um herói".

Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.

Serve-se morto.

Anónimo disse...

Primoб eu nao te deixo nadaб porque nao tenho nada para deixar, quer dizer eu tenho, um poema de Pushkin, pode nao dizer nada mas na mesma, aqui vai:
We shall amuse kind citizens
And at a shameful pillar
the Gut of last priest
of Last tsar we shall strangle.